quinta-feira, 24 de novembro de 2016

'Nunca é tarde', diz idosa de 65 anos que realiza o sonho de ler e escrever


Dona Nena procurou a escola do bairro onde mora, em Foz do Iguaçu (PR).
Colegas de classe, de seis e sete anos, são os principais incentivadores.

Numa das salas do 1º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Monteiro Lobato, em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, uma das alunas chama a atenção. Lá no fundo, uma senhora de 65 anos acompanha as orientações da professora Iracy, da mesma idade, copia no caderno tudo o que ela passa no quadro e se concentra para resolver os exercícios.
Jucelina Maria Cruz Madalena, a Dona Nena, está sendo alfabetizada com outros 22 colegas de classe, todos com idade entre seis e sete anos. “Quando eu não vou para a aula, as crianças vão me buscar em casa”, conta orgulhosa. “São eles que me dão incentivo e me ajudam. Tem horas até que tenho que pedir para eles não me ajudarem tanto. A gente tem que forçar um pouco a cabeça, senão não aprende, né?”.
Analfabeta, a aposentada trabalhou por mais de 40 anos como cozinheira e como empregada doméstica. Por não saber ler e escrever, disse ter perdido muitas oportunidades de ser promovida. “Eu sabia que não ia adiantar aceitar os empregos melhores por que me faltava estudo. Como nunca quis prejudicar ou atrapalhar ninguém, ficava na minha. Agora tenho o meu tempo para fazer as minhas coisas. Só penso em estudar.”


Barreiras

De uma família de seis irmãos em que apenas os homens tinham permissão para estudar, até tentou frequentar a escola, mas quando criança foi impedida pelo pai e já casada acabou desencorajada pelo marido. Tentou também fazer as aulas da Educação para Jovens e Adultos (EJA), à noite, mas não se acostumou com o frio e a distância entre a escola e a casa. Depois de um dia de trabalho, o cansaço a desestimulava. Desistiu mais uma vez.
Um dia, já separada do marido e com os dois filhos criados - um deles formado em educação física -, passando em frente ao colégio do bairro onde mora há 30 anos resolveu entrar e perguntar se poderia estudar. A direção aceitou na hora. O Conselho Escolar, formado por pais, alunos, professores e funcionários, também aprovou.
Era o que faltava para finalmente realizar o sonho de ser alfabetizada, mas o preconceito surgiu como um possível obstáculo para a realização do sonho.
“Até pensei que seria melhor desistir. As pessoas são ignorantes, ficam falando ‘o que uma velha vai querer estudar no meio das crianças? Só vai atrapalhar’. Meus filhos falaram para eu deixar de pensar no que iam falar e eu fui. Nunca é tarde para fazer o que a gente quer, o que é bom. Falo isso para as crianças, para as mocinhas e os meninos que não querem estudar”, aponta.
Depois de três meses já ‘junta as letras’ e escreve textos pequenos. A leitura ainda precisa de um pouco mais de treino, mas é o suficiente para entender algumas coisas e facilitar na hora de fazer as compras para casa. “Agora eu não paro mais. Só penso em continuar estudando. Ainda sou nova. Tenho 65 anos. Conheci a história de outra senhora, que começou a estudar com 68 anos e se formou com 87. Isso sim é exemplo.”

Fonte: G1

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